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Clã Leon Naves Barcellos


CLÃ LEON NAVES BARCELLOS

Por Robson Marques Cury 

Nasceu em 12 de janeiro de 1932, na cidade de Barretos, em São Paulo, Leon Naves Barcellos. Era o filho mais novo de Maria Rita Naves e de Orozimbo Barcellos. Ela, dona de casa; e ele, agrônomo. Era uma família simples do interior paulista. Ainda jovem, Leon morou em São José do Rio Preto, onde estudou em escolas da rede pública e jogava basquete. As boas lembranças de menino incluíam o fato de ter trabalhado num jornal local, no qual, entre outros afazeres, havia o de varrer a calçada em frente. Já rapaz, veio com o irmão mais velho para Curitiba a convite do tio que aqui morava, o então senador Abilon de Souza Naves. Os irmãos moravam numa república de estudantes. Ambos trabalhavam e estudavam. Seu irmão Raymundo Naves Barcellos formou-se médico pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) seguindo a profissão de psicanalista na cidade de São Paulo. Tinham também a irmã Maria Júlia. Enquanto funcionário do Banco do Brasil, formou-se em Ciências Contábeis e, depois, graduou-se no curso de Direito na UFPR, em 1956. Foi o orador da turma. Casou-se com Lucy Ritz de Souza Barcellos e teve dois filhos. Elegeu-se deputado estadual pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e, em 1964, durante o Golpe Militar, teve seu mandato cassado e seus direitos políticos suspensos. À época, procurador do então Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), foi aposentado compulsoriamente, sem direito a qualquer remuneração. Sob a emoção do impacto da notícia da cassação, despediu-se na tribuna da Assembleia Legislativa com um discurso honesto, corajoso, mas triste, o qual foi publicado pelo jornal O Estado do Paraná na sua íntegra. Voltou-se, então, para a advocacia, revelando-se um advogado de sucesso. Morreu no ano de 2015, com 83 anos, de parada cardiorrespiratória. Deixou saudades na família para a qual serviu de inspiração, pois seus dois filhos, os quatro netos e um bisneto seguiram seus passos, todos na área do Direito. 

Eu tive a feliz oportunidade de apreciar jurígenas petições, recursos e contrarrazões, subscritas pelo conceituado advogado Leon Naves Barcelos, abeberando do seu tirocínio jurídico e vasta experiência, para extrair proveitosas lições sobre a exegese de textos legais e de doutrina. 

Seu tio, o senador Abilon de Souza Naves, foi eleito em 1958 senador pelo PTB no Paraná. Político de grande habilidade, estaria virtualmente eleito governador nas eleições que se realizariam em 1960. Faleceu com 54 anos durante um jantar na Sociedade Morgenau oferecido por amigos e correligionários. De origem modesta, ocupou os cargos de Secretário do Trabalho e Assistência Social, no governo de Bento Munhoz da Rocha; presidente da Caixa Econômica Federal; presidente do Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado (IPASE), na última gestão de Getúlio Vargas; e diretor da Carteira de Crédito Agrícola e Industrial do Banco do Brasil (Creai), nomeado por Juscelino Kubitschek. 

Renato Naves Barcellos, filho de Leon, seguiu carreira na magistratura. A filha Lêda de Souza Barcellos, Oficial Judiciário concursada do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJPR). 

Tive a elevada honra de trabalhar com ambos. Renato era reconhecido como magistrado vocacionado e operoso; amigo leal e participativo. E a doutora Lêda na liderança da Assessoria de Recursos durante a maioria das gestões desde o Tribunal de Alçada, passando também no Departamento Judiciário e na Turma Recursal como diretora, até a aposentadoria com 31 anos de serviços de eficiência e qualidade. Sempre transmitindo conhecimento e segurança jurídica no seu mister. 

Faço parêntesis para dizer que Renato, na juventude, foi campeão paranaense de tênis de campo. E, como juiz de Direito, foi o primeiro bicampeão Nacional de Tênis de Campo da Associação dos Magistrados do Brasil. Tive o privilégio de assistir seus jogos, e muito aprendi. Seu backhand (golpe de esquerda), executado com habilidade ímpar, era decisivo. A sua esposa, Marjorie, certamente influenciada pelo sucesso dele, já madura aprendeu o esporte branco, colecionando troféus. 

Renato Naves Barcellos, filho de Leon Naves Barcellos e de Lucy Ritz de Souza Barcellos, nasceu no dia 25 de abril de 1961, em Curitiba (PR). Formou-se bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) na turma de 1984. 

Aprovado em concurso público para juiz substituto, a partir de 29 de dezembro de 1986, exerceu suas funções nas comarcas de Jacarezinho e Lapa. Nomeado para o cargo de juiz de Direito no dia 28 de setembro de 1988, judiciou nas comarcas de Clevelândia, Medianeira, Cascavel, Ponta Grossa e Curitiba. 

Em 28 de setembro de 2004, foi nomeado juiz do Tribunal de Alçada e, no dia 31 de dezembro de 2004, foi promovido a desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJPR). 

Lecionou Prática de Processo Penal na Escola da Magistratura. 

Entrevistado para a “História do Judiciário” pela jornalista Daniele Machado, do TJPR, discorreu sobre a sua vida familiar e profissional: “De certa forma, fui influenciado pela minha família e pelo pai advogado, profissional de sucesso, para estudar Direito e se tornar advogado. Mas não queria depender dele. Formado, montou escritório com três colegas da faculdade. Mais tarde, convencido pelo papai, foi ajudá-lo devido ao aumento de trabalho no escritório. Seu foco então era a advocacia. Mais tarde, foi trabalhar na assessoria jurídica da Companhia de Tecnologia da Informação e Comunicação do Paraná (Celepar). Oportunidade em que conheceu a sua futura esposa. Ao ver a menina linda caminhando em sentido contrário ao que seguia com seu carro e depois de percorrer as ruas, a encontrou num ponto de ônibus e a ela se apresentou. Soube que estava aguardando resultado de concurso na área de informática na mesma Celepar, conseguindo o telefone. Estão casados há 33 anos, e arremata dizendo que ela continua linda! 

Depois, foi convidado para trabalhar como assessor pelo juiz do Tribunal de Alçada Luiz Gastão Alencar de Carvalho. Tem muito gratidão e fala isso quando o encontra, já próximo dos 90 anos, pois, trabalhando no Judiciário, muito aprendeu. Foi então convidado por um amigo advogado para estudar para o concurso da magistratura. Estudaram por seis ou sete meses. Foram aprovados nos primeiros lugares; ele no 1º lugar. Mas não seguiu carreira; preferiu advogar.  

Em janeiro de 1987, assumiu a Secção Judiciária de Jacarezinho nas férias forenses que não mais existe, e foi recebido pelo colega Ercílio Rodrigues de Paula. Tudo muito difícil. Muita teoria na cabeça, mas com pouca prática. Conta outra estória em que o colega Lorni Zaniolo chamava os juízes substitutos de ‘Pouca prática’. Era a realidade da época. O outro juiz, Luis Sebastião Fávero, muito o ajudou. Também os promotores Gilberto Giacoia e Samia Bonavides. Batia na porta dos gabinetes deles. Assistia às audiências dos titulares para aprender. Depois passou também a chamar os substitutos que o sucederam de ‘Pouca prática’. 

Outro fato curioso: almoçava em Jacarezinho no mesmo restaurante, e a menina do caixa perguntou o que fazia; ao responder que trabalhava no fórum, ela afirmou então é juiz de menores, certamente pela sua aparência jovem e idade de 25 anos. E depois de três décadas, se a encontrasse, diria que agora é expert no estatuto do idoso. 

Ser juiz no interior é muito diferente. Todo mundo se conhece. Fez muitas amizades, como aconteceu em Clevelândia como titular. Não enfrentou nenhuma situação desafiadora. Pôde acompanhar melhor a infância do filho mais velho, o que não aconteceu com o filho mais novo. Pois trabalha menos no interior do que na capital. 

Todos na família cursaram faculdade de Direito. 

Trabalha na 5ª Câmara criminal, e o serviço é muito estressante, pois examina desde a primeira até a última linha. Como trabalha com a liberdade das pessoas, não pode errar. Tem que decidir com convicção. Adquiriu o perfeccionismo diante da responsabilidade. Sempre estudava o processo de manhã antes da audiência. Não admite que o magistrado presida a audiência sem estar preparado.  Procede da mesma forma no tribunal. 

Seu esporte favorito é o tênis de campo por exigir concentração absoluta na sua cabeça, o que o leva a desestressar. 

Na sua carreira de 34 anos, nunca se omitiu, sempre ativo, dedicado ao trabalho e responsável. E lembra a frase de Martin Luther King: ‘Não me preocupo com o grito dos maus, eu me preocupo com o silêncio dos bons’. Essa mensagem mostra que a omissão favorece o mal.” (YouTube, História do Judiciário, 1° de junho de 2020) 

Todos os descendentes de Leon Naves Barcellos estudaram Direito. Os netos filhos de Renato são os advogados Leonardo e Vinicius. Os netos filhos de Lêda são a Lucy, assessora jurídica concursada do Ministério Público do Paraná, e o advogado Luiz Francisco. E o bisneto Lucca cursa Direito. (Biografia do patriarca pela doutora Lêda de Souza Barcellos) 

Descrição da imagem de capa: Arte gráfica com estantes de livros no fundo e no centro o título com os dizeres - História do Judiciário Paranaense.